Wannes Beraldo Magalhães é pai do Flávio, amigo/irmão que a vida me deu, desde o antigo segundo grau do Colégio Santo Inácio, início dos Anos 80.

Há cerca de 30 anos, Wannes começou a escrever essas memórias. Pouco tempo depois, ele me apresentou esses escritos. Eu, pós-adolescente, disse para ele que aquilo poderia virar um livro, e que eu também escrevia bastante (eu nem sonhava ser jornalista ainda, muito menos escritor). ‘A ideia é essa’ ele me retrucou à época.

Tempo passou, dentre outras formações acabei jornalista, tive uma editora, publiquei dissertações, teses, e realizei esse sonho do primeiro livro de muitos autores. Menos o do Wannes que ainda não ficara pronto. Vida seguiu, outros rumos, e eu me afastei do mercado editorial.

Recentemente, no meio da pandemia, Flávio e Wannes me convidam para coordenar o projeto editorial do seu livro de memórias. Ao analisar o material, textos e fotos, notei que havia muitas lacunas, ‘causos’ interessantíssimos ainda que desconexos e algumas narrativas interrompidas que não resultavam em um livro.

Próximo de completar seus 85 anos, Wannes tinha uma compilação de histórias rica, e o desejo de publicá-las ainda que incompleta. Então, elaboramos essa edição. Durante um ano gravei inúmeras entrevistas com ele, colhi depoimentos de familiares e amigos.

Essa parceria colaborativa revelou o que eu já sabia: Wannes é um grande ser humano, fruto de suas experiências de vida. Mas ainda faltava bastante para aquilo ser um livro. Percebi que tudo aquilo precisava de uma estrutura, ainda que não objetivássemos fazer uma biografia formal.

Dessas incompletudes, nasceu uma coautoria muito prazerosa, porém desafiadora. Costurar as histórias que estavam escritas, recontar os relatos gravados, construir um fio condutor e encontrar uma linguagem que mitigasse eventuais hiatos e não perdesse o estilo Wannes de ser. 

Diante do que tínhamos e das nossas limitações, criamos os cadernos de fotos, propusemos uma complementação histórica, com pesquisa mineira e elementos médicos, e para finalizar tudo isso com a cara de um livro (auto) biográfico, Wannes aceitou a minha proposta literária: a ousadia da construção não-linear, sem capítulos definidos.

Para dar um respiro ao leitor e subsidiar os relatos, criamos fluxogramas genealógicos e alguns esquemas gráficos que pontuassem as linhas do tempo acadêmica, profissional e geográfica.

Deslocamos os originais em que Wannes se remetia com amor e carinho aos netos e arrematamos com o currículo profissional dele.

Um ano e pouco de muita emoção: rimos muito, choramos outro tanto e nos confidenciamos segredos que ninguém vai encontrar nessas linhas. Acharão revelações de ética, fé, foco, disciplina e humanidade.

O livro está pronto. Longe de ser perfeito, próximo do que foi possível. O processo criativo pode ter sido dos dois, mas é a história do Wannes que se eterniza. Um legado de empatia em tempos de tanta intolerância.